RESENHA DE LIVRO: A Hora da Estrela – Clarice Lispector




RESENHA DE LIVRO: A Hora da Estrela – Clarice Lispector
Ano: 1977
Editora: Rocco
Autor: Clarice Lispector
Gênero: Romance
País: Brasil
Páginas: 88


ATENÇÃO, O TEXTO ABAIXO PODE CONTER SPOILERS. 


Quem nunca ouviu falar de Clarice Lispector? Pode até não ter lido sua obra, mas provavelmente esbarrou numa frase dela, pois as mesmas estão sempre perambulando pelas redes sociais. Eu também ouvi falar dessa escritora por muito tempo, porém, só fui ler um de seus livros tardiamente, e comecei logo com A Hora da Estrela.
Publicado em 1977, pouco antes da morte de Clarice Lispector em decorrência de um câncer no ovário, A Hora da Estrela conta a trajetória da alagoana Macabéa através da ótica de Rodrigo S.M., um narrador/personagem extremamente sincero e até irônico. Saída do nordeste após a morte da tia – já sendo órfã – a moça vai tentar a vida como datilógrafa no Rio de Janeiro, uma cidade que parece ter sido construída contra ela: vive num quarto compartilhado com outras quatro mulheres, seu chefe quer demiti-la por considerar Macabéa incompetente, ela tem o pior namorado e a pior amiga do mundo e um de seus únicos momentos de lazer é a ida mensal ao cinema. O cinema, inclusive, é de muita importância na historia, pois Macabéa é fã das grandes estrelas da tela grande como Marilyn Monroe.
A história, de modo geral, corre sem grandes acontecimentos e o que move o livro é a análise de suas personagens. De um lado temos Rodrigo S.M. representando o erudito através de suas justificativas para a escrita e do fluxo de consciência que toma quase metade do livro. Do outro, há Macabéa, perfeita exemplificação da cultura de massa que bebe Coca-Cola e coleciona anúncios publicitários, além de ser pobre e sem muita instrução, aguardando apenas sua hora de brilhar.

Clarice Lispector
Mas que brilho? Macabéa é ingênua e com um senso distorcido da realidade. O comportamento da protagonista faz o leitor quase agonizar, porque não é possível acreditar em algumas coisas que ela faz. Um bom exemplo disso é a cena em que, durante um passeio no zoológico com seu “namorado” Olímpico de Jesus, a nordestina se urina com medo de um animal. Por tudo isso, apesar da cartomante Madame Carlota prever o contrario, o destino trágico de Macabéa se encaminha como algo inevitável, afinal, só na morte ela teria sua hora de estrela.
A frequência com que Clarice Lispector é citada e suas frases são reproduzidas em imagens bobas do Facebook apenas disfarçam a profundidade de seu texto, e lendo A Hora da Estrela isso se torna notável. A obra necessita ser entendida em sua complexidade, ela clama por isso.

OBSERVAÇÕES:
- Clarice Lispector nasceu na Ucrânia e se naturalizou brasileira.
- O “S.M.” de Rodrigo é graças a São Miguel, do qual Clarice era devota.
- Adoro a metáfora do violinista e sua relação com a morte.


 CLASSIFICAÇÃO: óóóóó


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